CAMALEÃO Urbano

PROPOSTA INTEGRAL


A natureza deste ser é não ser, é estar, é tornar-se, qualquer. É poder ser o que você quer sem deixar de ser o que ele é.
Camaleão Urbano



Eu quero dizer; agora o oposto do que eu disse antes; eu prefiro ser; essa metamorfose ambulante; do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo.
Raul Seixas



O olhar do camaleão

Quando o camaleão se prepara para caçar, sua visão se subdivide. Um olho permanece fixo na presa, enquanto o outro se movimenta; esquadrinhando, analisando o ambiente, mantendo o perímetro seguro. Somente quando está preparado, ele fixa os dois olhos, lança-se sobre sua presa. O camaleão não perde o foco, conserva o olhar no alvo e, sem se deixar cegar pela objetividade, permanece ligado em tudo o que está a sua volta. Os humanos a seu turno, só conseguem se concentrar em um único objetivo desabilitando o restante.

O Camaleão Urbano baseia-se nos conceitos de adaptabilidade, camuflagem e mimetismo. Parte da ideia multiusuária, comum aos instrumentos plurifuncionais. Descrito de outra forma, pretende ser aquela ferramenta que possui missão multifuncional. Procura acomodar ou ajustar a realidades diversas, fazer com que um determinado objeto ou mecanismo cumpra várias funções para as quais tenha sido concebido/construído.

Seu objetivo é não ter objetivo! É destituir-se de função própria para incorporar funções transitórias. É ser hospedeiro agente e participante ativo de múltiplas vocações.

Camaleão Urbano, não é uma coisa, é um conceito, um instrumento colaborativo que procura acomodar-se às condições do seu novo entorno, mimetizando-se no ambiente para dar visibilidade a propostas de terceiros. Para este fim, serve-se de estratégias de camuflagem que consiste em se adequar temporariamente aos objetivos de uma diversidade de iniciativas. Fornece uma infraestrutura multimídica, multifuncional com o intuito de viabilizar as iniciativas dos parceiros tornando-as mais visíveis, eficientes e produtivas.

Acomoda-se a diversas circunstâncias e condições incrementando as suas expectativas a longo prazo para se reproduzir com sucesso.

Na natureza, a camuflagem, é uma adaptação evolutiva desenvolvida por alguns organismos; toma por empréstimo o aspecto que se assemelha ao seu meio envolvente, com a intenção de passar despercebido aos olhos dos possíveis predadores. Confere vantagem competitiva aos portadores desta habilidade.

A camuflagem pode ser vista como o conjunto de técnicas e métodos naturais que permitem a um dado organismo ou objeto permaneça indistinto do ambiente que o cerca. A camuflagem mais eficiente é aquela em que o ser se mistura com o ambiente.

No mundo contemporâneo, o Camaleão Urbano toma um aspecto que se assemelha ao seu meio envolvente, com a intenção de dar visibilidade a seus associados. A ideia parte do pressuposto que iniciativas que possuem flexibilidade cognitiva estão mais aptas a incorporar estratégias oriundas de diferentes cenários em seu planejamento e desenvolvimento, na tomada de decisões e na gestão do dia-a-dia. Podem manter simultaneamente vários cenários em mente e percebem com agilidade o momento certo de trocar ou implementar mudança.

Flexibilidade cognitiva indica agilidade, pensamento divergente, respeito a diversidade, interesse no desenvolvimento de novas abordagens, a capacidade de ver e alavancar novas conexões e a propensão para trabalhar sistemicamente.

O pensamento flexível permite-se variar sua abordagem para lidar com seus próprios projetos e com os de terceiros. O Camaleão Urbano desenha-se flexível e confortável com o processo de transição de objeto conduzindo a mudança e a agenda adiante sem percalços.

A adaptabilidade e flexibilidade opera a partir de um lugar de otimismo fundamentado no realismo e na abertura onde a diversidade e a ambiguidade são bem-vindas. Para o Camaleão Urbano toda mudança é uma oportunidade de novas realizações.

Ao aprender e praticar comportamentos que amplificam a flexibilidade cognitiva e disposicional o Camaleão Urbano procura tornar-se cada vez mais adaptável e assim, auxiliar outros projetos a se projetarem.


Camaleão Urbano UFPE - O carro de externa projeto de divulgação a ação cultura e da extensão da Universidade Federal de Pernambuco



Resumo do projeto:

O projeto Camaleão Urbano é um conceito aplicado a uma infraestrutura de mídia móvel, itinerante e autônomo, arquitetado com o objetivo de registrar, cobrir, transmitir e fomentar manifestações socioculturais nos espaços da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e na região metropolitana do Recife.


A ideia parte do restauro do antigo ônibus de externas da TV Universitária e da reflexão sobre a reutilização de um importante objeto da memória da universidade aliado às demandas contemporâneas da sua função de instrumento midiático, guiado pelas necessidades de fortalecimento de redes de comunicação e os projetos de mídia livre como ações extensionistas da UFPE. A proposta é que o ônibus sirva como plataforma tanto midiática, de produção e difusão de conteúdo de informação, como plataforma artística para a realização de espetáculos cênicos, concertos, shows, saraus, exibição de vídeos, entre outras modalidades de expressões culturais. O Camaleão Urbano é também um estúdio artístico de rua.

O projeto ajudará ainda a atualizar as formas de representação e expressão da cultura, experimentando novas maneiras construir a relação entre produtores culturais livres da Universidade Federal de Pernambuco - sejam eles seus técnicos, docentes ou estudantes - e seu público, entre a cultura materializada e aquele que a experimenta.



Foto do carro de externa da TV Universitária da UFPE



Justificativa

A sociedade hiperconectada está produzindo transformações culturais enormes em quase toda área de atividade humana. Mas toda transformação se dá, essencialmente, pelo impacto de novas ferramentas e possibilidades de comunicação em rede.

O conceito Camaleão Urbano tenta incidir sobre dois aspectos cruciais dessa nova e emergente consciência coletiva. E de como ambos aspectos podem - e devem - ser vistos como fronteiras essencialmente culturais.

Primeiro a mídia. A hiperconexão e a facilidade técnica para produção midiática provocou um crescimento exponencial de novos mediadores. E transformou a comunicação social - outrora uma atividade restrita a uma elite profissional - em uma atividade cidadã. Passamos de sociedades baseadas no propriedade do conhecimento para sociedades baseadas na troca de conhecimentos. O Camaleão Urbano não pretende ser uma vitrola ambulante, um multimídia autômato. Mais que isto pretende ser um instrumento agentivo de trocas, um espaço de incubação e engenho de ideias. A natureza deste ser é não ser, é estar, é tornar-se, qualquer. É poder ser o que você quer sem deixar de ser o que ele é.

Em nosso entendimento, a mais importante transição que a mídia passa não é a de modelo de negócio. Mas a de gênero. Antes um mercado, uma indústria, um ofício restrito, a mídia começa a se tornar uma atividade essencialmente cultural, um movimento de geração que diz respeito a novas identidades e expressão pública. Temos a convicção de que fazer mídia, hoje, está mais no registro da criação cultural do que no da mera escolha profissional.

Em segundo, a cidade. E como o ciberespaço está transformando as possibilidades e as relações das pessoas como o espaço público. As novas possibilidades de comunicação fomentaram uma retomada das ruas e praças como espaços de manifestação cultural. Instrumentalizou coletivos e artistas propondo novos usos para a cidade e premiou agentes artísticos e culturais com um papel político renovado, de incidência real sobre a vida pública. E isso merece registro. E fomento midiático. Mas não apenas.

Nosso objetivo é encarar a mídia como uma linguagem artística e cultural. A cidade como um estúdio a ser experimentado. Explorar as facilidades tecnológicas de nossa geração para sermos itinerantes como um circo. E buscar um respeitável público, um pós-espectador, como um agente criador e também protagonista. Como um circo, atrair esse público para um novo espetáculo a cada dia, em novas praças.

Iniciativas como esta vem mostrando a mobilidade artística como uma forte tendência contemporânea de apropriação do espaço urbano para facilitar a fruição artística e viabilizar a formação de público. São iniciativas de mídia livre, redes de comunicação, streamings de rua e técnicas artísticas, a exemplo de iniciativas como Gráfica Clandestina (SC), Cavalete Andante (SP), Cidade Invertida (SP), Grabado Sobre Ruedas (Colômbia), Moveable Type (EUA), entre outras. E é preciso se pensar na importância deste projeto estar no Recife, atualmente um dos polos da indústria criativa brasileira ligada à cultura e tecnologia, através do crescimento de cadeias de animação, jogos eletrônicos, cinema e audiovisual, entre outras.

O Camaleão Urbano é um instrumento relevante para difusão de novos produtos criativos, permite a democratização do acesso ao público aos bens da cultura ao tempo que incentiva a proliferação da cultura livre. Formatos como talk shows, apresentações musicais, cênicas, performances, audiovisuais, entre outras, fazem parte do modelo de ações que pretendemos para o projeto. O modelo alimenta um molde contemporâneo de mídia itinerante, que estimula a novas possibilidades inventivas, utilizando recursos tecnológicos para desenvolver novas perspectivas e aplicações culturais.

Trata-se também de uma plataforma multimídia que visa o multiusuário, aquele que é público e produtor ao mesmo tempo. E através da atuação desse multiusuário, transfigurado nos membros da nossa comunidade acadêmica e em constante provocação pelas ações desenvolvidas através do Camaleão Urbano, tecerá a relação entre os três pilares fundamentais da universidade: ensino, pesquisa e extensão.


Etapas do projeto:

Primeira etapa: Criação da estação. Reforma do carro de externa que serviu a NTVRU com vistas à instalação de equipamentos para apoio, suporte e divulgação de iniciativas culturais, oferecendo estrutura para criar um estúdio de rua com ampla autonomia técnica.

Segunda etapa: Após a reforma do veículo, o Camaleão Urbano dará apoio a ações em diferentes espaços de cultura na cidade do Recife e em outros territórios da área de influência da UFPE para acompanhar as movimentações culturais, cobrir festivais públicos e, principalmente, envolver o público presente como participantes e co-criadores. Nesta etapa o foco é na conexão com os coletivos e movimentos de arte de rua, com o desenvolvimento de linguagem audiovisual e com a criação de formatos pertinentes à estrutura versátil do ônibus.

Terceira etapa: Agenda de programação ao vivo e o percurso da estação se tornam uma atração em si. Um próprio evento cultural para além da cobertura.

Quarta etapa: Quando estiver funcionando, o Camaleão Urbano se tornará num polo para a conexão de público, para a proposta de programas e percursos.



Expectativas com o projeto:

· Conectar artistas visuais, músicos, artistas cênicos, comunicadores e jornalistas na produção dos programas e estimular o público a participar das transmissões;

· Que traga para conversa pública temas e debates relativos às cidades, às novas relações políticas da cidade e o mundo digital e a discussão das próprias transformações da comunicação como fronteira cultural;

· Produzir talk shows de rua com pedestres, transmissões ao vivo de shows, de eventos de arte urbana, entrevistas com artistas, programas de auditório feitos em praças e parques;

· Viabilizar transmissões ao vivo – tanto em rádio quanto em streaming – e oferecer estrutura para criar um estúdio de rua. Com total autonomia técnica, utilizando modems 4G em redundância para as transmissões, o Camaleão Urbano será equipado com infraestrutura capaz de produzir seus programas, podendo entrar no ar em territórios desconectados da rede e improváveis como espaços midiáticos;

· Trabalhar na constante revitalização do Campus da UFPE e da Cidade, a partir do momento que visa engajar as comunidades desses espaços e trabalhar para reforçar a identidade artística, cultural e sociais dos espaços;



Objetivo:

Transformar o “carro de externa” da TV universitária em um ônibus itinerante, que levará oficinas artístico-literárias e culturais gratuitas a diferentes públicos.



Justificativa:

A natureza multiusuária permite que o ônibus seja transformado e utilizado no apoio, suporte e divulgação em uma variada gama de iniciativas culturais tais como biblioteca, ateliê, núcleo de multimeios, espaço para oferta de oficinas abertas ao público. O ônibus poderá participará de eventos cedendo espaço e atraindo visibilidade promocional, trazendo bons resultados na divulgação das ações culturais da UFPE na mídia.



Multiusuário

O termo multiusuário se celebrizou no contexto eScience entre os investigadores do campo da informática, domínio no qual define um sistema que permite acesso compartilhado e simultâneo de múltiplos usuários a partir de um único equipamento capacitado para operacionalizar demandas externas. O uso partilhado de recursos humanos, infraestrutura e serviços é uma forma inteligente de gestão, contribuindo para eficiência de gastos públicos.

A sustentabilidade e colaboratividade são critérios valiosos para avaliar a eficiência de investimentos públicos, principalmente quando se considera os recursos necessários para manter o funcionamento perene de infraestrutura de TI em ambientes distribuídos em rede. A adoção de práticas multiusuárias é particularmente aplicável em programas que exigem grandes investimentos em edificações, equipamentos e recursos humanos qualificados para operacionalizar áreas estratégicas da ciência a prática.

O Projeto contempla e estimula, a estruturação de infraestruturas multiusuárias “Facilities” que procuram atender as necessidades de uma diversidade de grupos de extensão e cultura, na UFPE. Equipamentos caracterizados por terem utilidade para diferentes coletividades acadêmicas, e se prestam a variadas formas de uso. Esta especial natureza garante sustentabilidade e eficiência do investimento partilhado por diversas iniciativas evitam duplicidade de ações e desperdício de recursos, dilui os custos operacionais e garante melhores condições de sustentabilidade para o projeto. Em contraponto, a operação monousuária é mais dispendiosa, notadamente quando não existe demanda suficiente para manutenção permanente dos serviços.



Visibilidade

Pode-se dizer de visibilidade aquela capacidade, qualidade ou caráter do que é sensível ao olhar. Como nos ensina Sartor, o desenvolvimento da imprensa e o surgimento dos meios eletrônicos de comunicação no século XX criaram um novo tipo de visibilidade para os atores sociais. Evidencia-se uma crescente preocupação das organizações, em ocupar espaços na mídia, como forma de agregar valor que advém do reconhecimento público e legitimidade social.

A disseminação de uma consciência sobre a importância de noticiar – que parece ter se tornado a forma mais eficiente de interagir com a sociedade – contribuiu para o desenvolvimento de uma área profissional voltada a promover e administrar as relações entre as organizações e os produtores da notícia

Expansão de visibilidade e multiplicação de Publico alvo

É através da visibilidade midiática que as organizações buscam justificar suas ações e disputar o apoio ou a simpatia da opinião pública. os meios de comunicação (re)produzem os diversos discursos sociais e, assim, oferecem o ambiente em que as atitudes individuais e coletivas são publicamente explicadas. caminho compulsório para a conquista da legitimidade, a mídia abre “novos espaços para a representação dos indivíduos e instituições perante a sociedade”. (2006, p. 3).visibilidade midiática permite o reconhecimento público e constitui o lugar em que as ações individuais e coletivas são socialmente legitimadas, influenciar a agenda dos meios e colocar-se como fonte de notícias é tarefa imprescindível para as organizações contemporâneas.

à construção de uma apreciação positiva por parte dos públicos, a assessoria de imprensa parece relevante no sentido de contribuir para a aquisição de credibilidade (capital simbólico fundamental para a imagem organizacional),



O Cultura Vagon é uma forma de mídia volante.

Thompson, John B. A mídia e a modernidade: uma teoria social da mídia. Petrópolis: Vozes, 1998

SARTOR,Basilio Alberto.Assessoria de imprensa e visibilidade: a imagem-conceito das organizações no incontrolável domínio da notícia. Conexão – Comunicação e Cultura, UCS, Caxias do Sul, v. 7, n. 14, jul./dez. 2008



Mobilidade ação cultural - Antecedentes:

Em 30 de Marco de 1968 o Jornal Universitário, veículo de comunicação social da universidade federal de Pernambuco estampou a imagem do desembarque no Porto do Recife de um caminhão equipado com as mais modernos equipamentos televisivos da época, importados do Japão pela UFPE.



Jornal Universitário, Recife, 30 de março de 1968

A TVU foi a primeira emissora da América do Sul a possuir tal aparelhagem, adquirida em convênio com a Organização dos Estados Americanos (OEA) e mais tarde com substancial apoio da SUDENE através do programa de apoio aos cursos “madureza” para capacitação de jovens fora de faixa e adultos. Com o tempo, os resultados foram surgindo e, a cada índice positivo, consolidando o novo sistema.

Tendo cumprido sua missão e não lhe restando mais a função social para que fora adquirido, o destino normal de um equipamento como o carro de externa da TVU era ser declarado como bem inservível conforme reza a legislação que trata do desfazimento do patrimônio público da união.

Todavia, uma outra missão ainda é possível para este equipamento, a de ser veículo a serviço da divulgação a ação cultura e da extensão da Universidade Federal de Pernambuco.




Carro de externa da TV Universitária sendo desembarcado no Porto do Recife. Jornal Universitário, Recife, UFPE, 30/03/1968

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